Jogado à margem e esquecido pela sociedade, a única saída encontrada por aquele cego foi partir para a mendicância. Se tornar mendigo. É a luta pela sobrevivência…
Por ser a portaria da grande empresa local bastante movimentado, principalmente em horários de saída e entrada de turnos, ali estava ele todos os dias a pedir um e outro. Habituara-se com aquel corre-corre de trabalhadores todos os dias. Tudo já era muitonormal para si. Esperar da vida o quê? O que um cego mendigo poderia esperar da vida? Seria o destino…? Ninguém sabeia explicar. Aquela multidão só sabia trabalhar e produzir. Smpre produzir… Os patrôes? Cada vez mais ricos. Peão não pode reclamar nada, senão vai “embora”.
O patrão:
-Se não está satisfeito aqui, estás livre para trabalhar em outra empresa.
-Mas não tem emprego…
-Trabalhe por conta própria…
Que diabo do mundo é esse?… mas a única forma era enfrentar…
Não poderia imaginar o que pudesse estar acontecedo naquela manhã movimentada de outubro. Nunca “vira” tanta gente junta antes. Talvez fosse o melhor dia para “ganhar” dinheiro. Melhor que todos os outros anteriores, imaginava. Pedia um por um. Ninguém lhe dava a devida atenção. A massa estava mais agitada do que nunca. Falatórios por tudos os cantos. Alguns até mesmo discursavam. Gritos, assobios ensurdecedores, saíam do meio da multidão. Não entendia nada daquilo, só queria colher alguns trocados. Nunca tinha “visto” coisa igual. Enfim, o que fazer? Também não sabia. O jeito seria continuar ali no meio daquela confusão, talves, quem sabe, levantaria algum fundo. Viera para ipatinga porque aqui “corria” muito dinheiro.
Cada minuto que passava a masa ficava mais agitada. Outros trabalhadores vinham chegando para o trabalho e logo que percebiam aquele quadro, aderiam ao movimento grevista. Não sabia quantos operários haviam sido espancados na noite anterior, sequer do que se tratava o movimento. Ao mesmo tempo, não podia ver, em cima do caminhão, a tropa da polícia, que se preparava para o ataque.
Escuta so primeiros tiros. Os operários se abaixam, deitando-se no chão. Como não enxerga os arredores, continua de pé. Normalmente de pé. Outros estrondos vão surgindo. Uma rajada de metralhadora no ar. Outras e outras rajadas. O tiroteio prossegue por alguns minutos. Uma bala de fuzil atravessa-le o peito, acompanhada de outros e mais outras… O corpo vai se desequilibrando. As pernas já não suportam mais o seu peso e o mesmo cai inerte no chão, sem vida. É mais uma vítima da chacina da PM. Mais um dos milhões e milhões de pobres latino-americanos condenados à morte, seja pela bala de fuzil, seja pela fome…
Seu nome? Não tinha maita importância. Era apenas “um cego mendigo”.
Assim destacou a imprensa.