Conta-se a história, na região, de um cabra valente, por um nome “Quim”, cujo verdadeiro nome é Joaquim Mudesto, que de tão valente foi nomeado subdelegado de Cachoeira Escura, município de Belo Oriente e linchado pela população local no início da década de 60.
Joaquim Mudesto, pistoleiro famoso, era autor de vários crimes. No final da década de 50 esse elemento perigoso passa a residir em Cachoeira Escura, onde colocara o povoado, de aproximadamente 400 habitantes, em pânico. Não tinha medo de ninguém. Batia em qualquer um. Até o destacamento local o respeitava. Tinha medo do batido.
Um dia “Quim” Mudesto encontra, nas imediações de Ipatinga, outro valentão, de nome Altamiro, e chega a trocar tiros com este. Altamiro desaparece uns tempos do povoado. Retornando a Ipatinga, tempos depois, esse elemento, por suas proezas e valentias, é nomeado bate-pau da polícia. Depois disso cresce a posição do elemento. Passa a desarmar todos os que encontra pela frente. Só que ao invés de deixar as armas tomadas na cadeia local, Altamiro as vendia para terceiros. Isto foi imediatamente descoberto, e uma equipe de policiais da PM foi nomeada para ir a Ipatinga prender o bate-pau. Certo dia a jardineira para pro desembarque no centro do lugarejo e de dentro da mesma saltam os policiais. Nesse momento, Altamiro, que já os esperava do outro lado da rua empoeirada, começa a correr. Mal desceram do coletivo, os policiais partiram em sua perseguição. O bate-pau alcançou o pontilhão e passou a saltar sobre os dormentes, tentando alcançar o outro lado do rio Ipanema. Só que, para seu azar, e com toda aquela correria, erro um dormente do trilho e caiu lá embaixo (aproximadamente 10 metros) no meio de uma moita de colonião. Os policiais chegaram próximo e lhe deram voz de prisão. Ele respondeu que se alguém se aproximasse cortaria no tiro. Ninguém se arriscou. Até a mãe de Altamiro que gritou por ele, ouviu lá de baixo:
– Até a senhora que aparecer na minha frente eu corto no tiro.
Então a velha disse:
– Pois eu vou aí trazer você.
E foi. Minutos depois ela entrega o filho aos policiais, com uma condição: que não espancassem o rapaz. Tudo bem, negócio fechado. Altamiro foi preso e solto alguns dias depois. Em seguida, apronta no povoado e vai às pressas para Iapu, onde mata um homem. Foge de Iapu e vi para Cachoeira Escura, onde é assassinado por “Quim” Mudesto.
“Quim” Mudesto, por volta de 1961, por valentia e braveza, é nomeado subdelegado de Cachoeira Escura. Ao chegar ao povoado, convoca toda a população a comparecer à praça central. De cima de uma tora de uma madeira de lei ele exibe aos moradores do lugar o seu documento de autoridade e diz:
– Quero que todos fiquem sabendo que fui nomeado delegado deste lugar e de agora em diante quem manda aqui sou eu.
Suas ordens:
– Mulher só pode, daqui por diante, andar na rua somente até as sete horas da noite. Os homens que forem encontrados depois das oito serão presos e levarão cacete. O comércio também não ode funcionar após este horário.
Daí para frente o pau comeu. Mudesto começou a cumprir o que havia prometido. Dava 7 horas da noite quase ninguém ousava sair à rua. Os homens que encontrava após as 8 cobria o cacete. O comércio que funcionava após esse horário, mesmo de porta fechadas, era invadido a pontapés pelo subdelegado e seu proprietário espancado junto como o freguês. Isto foi se repetindo até que a população se encheu.
Alguns dias depois o povo de Cachoeira Escura se revoltou contra “Quim” Mudesto. Este, vendo se pressionado, foi procurar reforço. Ao retornar, acompanhado de alguns policiais – logo que desceu da Maria Fumaça, que passava próximo ao povoado – foi recebido a tiros, pedradas, etc. Os soldados recuaram. “Quim” Mudesto se aproximava da multidão, atingido pelos projéteis e pedradas que lhe eram direcionadas. Caminhava a passos lentos, meio cambaleante, como um bêbado desequilibrado sobre as próprias pernas. A Maria Fumaça partiu, marcada de chumbo de espingarda e revólveres. “Quim” Mudesto veio cambaleante até cair imóvel no chão de areia. Os moradores se aproximaram e lhe esfacelaram a cabeça com pancadas fortes de grandes pedras. Mais tarde ele foi levado ao Hospital, em Coronel Fabriciano, onde morreu horas depois de dar entrada naquele nosocômio.
Conta-se uma lenda que “Quim” Mudesto tinha três Santo Antônios costurados no peito, e uma preta velha que lhe “fechou” o corpo teria garantido que ele só morreria quando tirassem o Santo Antônio do seu peito. Portanto, somente após o médico ter feito isto é que “Quim” Mudesto, mesmo com a cabeça totalmente destruída, mas ainda respirando e gemendo, teria dado seu último suspiro.