Na década de 50, o norte do Espírito Santo e o Vale do Rio Doc passam a ser palcos de bárbaraos assassinatos, perseguições, chacinas, expulsões e prisões indiscriminadas de posseiros da terra.
um dos locais bastante marcado por esses acontecimentos, em Minas Gerais, além dos vários outros, é o Rio Santo Antônio, afluente do Rio Doce, no município de Naque.
Por volta de 1957, em nome da Cia. Belgo Mineira (hoje, proprietária de cerca de 10% do território de Minas Gerais), famílias inteiras eram exterminadas nas margens do Santo Antônio, por jagunços e pela polícia de Governador Valadares, sob o comando do então tenete Altino (hoje, coronel reformado e fundador da Faculade de Direito de G.V). Nessa época o Estado doava, a qualquer modo, grandes extensões de terra da região para a empresa siderúrgica. Esta, com seu poderia econômico e o apoio do governo, contratava jagunços que, em conjunto com a polícia, partiam em perseguição aos trabalhadores do campo. Os lavradores, por sua vez, haviam posseado as terras há muito tempo. Alguns trabalhavam o seu pedaço de chão há 10, 20 ou 30 anos. Nessa terra dava de tudo. Ninguém falava em fome. Colhia-se alimentos em ambundância. Viviam em outra dimensão.
Mas, de repente, o sorriso foi se apagando dos lábios dos moradores das margens do rio Santo Antônio. Uma tristeza imensa invadia seus corações. A toda poderosa Belgo Mineira mandava um “mensageiro” seu avisar aos posseiros locais que era proprietária daquelas terras e possuía documentos legais dos mesmos. Os posseiros não conseguiam entender o porquê disso tudo. Muitos haviam posseado a terra antes mesmo de existir a tal empresa. Agora eram acossados pelo monstro. Primeiro, o “mensageiro”, acompanhado de alguns capangas, percorria as glebas anunciando a propriedade das mesmas pertencer à Belgo Mineira e a posição da empresa em relação aos posseiros. No final, davam um curto prazo, de uns dois meses, para que o posseiro desecupasse a área. Em alguns casos, nem mesmo isso acontecia.
Em seguida, o terror espalhava-se por tempos os lados. Jagunços disfarçados de políticas, polícias disfarçados de jagunços, ou somente jagunçoes acompanhados pelo tentente Altino, invadiam as propriedades dos pobres posseiros, ateavam fogo em suas plantações e os expulsava à força de suas terras. Os que resistiam eram abatidos a tiros, suas casas incendiadas, chegando a ser registrados alguns casos em que famílias inteiras eram dizimadas pelos desumanos carrascos. Algumas emboscadas chegaram a ser preparadas pelos perseguidos posseiros, que levaram a cabo alguns inimigos. Mas isso não adiantou muita coisa. No final, a corda arrebentou do lado mais fraco e todos foram expulsos. Muitas viúvas, deixando os marido enterrados nas marguens do rio Santo Antônio, partiam com seus filhos menores em busca de sobrevivência para as cidades de Governador Valadares, Ipatinga, Coronel Fabriciano, principalmente para as duas últimas, que ficavam mais próximas. Muitos outros posseiros foram presos e torturados nas prisões de Governador Valadares. Outros saíram desesperados de suas posses, deixando para trás plantações, criações e faturas muitas, e se jogavam de qualquer maneira para as periferias das cidades vizinhas, contribuindo proliferação das favelas. O único emprego que conseguiam na cidade era de ajudante ou servente, pois não eram mão-de-obra qualificada, e tinham acabado de deixar para trás seus meios de produção, seus ofícios de lavradores de terra. As mulheres, as viúvas, eram submetidas a um trabalho semi-escravo, ou de lavagem de roupa, para garantir a sobrevivência dos filhos. As filhas, muitas vezes, eram obrigadas a se sujeitar à prostituição como única forma de sobrevivência. Assim era a vida dos posseiros…
Mais tarde, com a implantação da Usiminas, os trabalhadores expulsos da terra vinham, juntamente com seus filhos, trabalhar na construção da grande empresa, o maior complexo siderúrgico da América Latina. Aqui, novamente são desapontados com os acontecimentos de 7 de outubro de 1963.