Moradores mais antigos de Ipatinga contam que por volta de 1954 houve a primeira revolta do pessoal do povoado contra a polícia local.
Moravam no lugarejo mais ou menos uns 300 habitantes. Só tinha uma rua, casas de um lado e de outro. Grande parte dos homens eram carroceiros. Desta profissão tiveram o sustento da família, transportando lenha e carvão vegetal para os carvoeiros locais. Não ganhavam muita coisa, mas para a sobrevivência dava.
O tempo ia correndo. O número de carroceiros ia aumentando gradativamente. Certo dia, o destacamento policial do lugar construiu um curral de conselho para prender animais que ficavam soltos na rua. O subdelegado Barreto alegava que os fazendeiros vizinhos estavam reclamando dos animais de carroça do povoado, soltos em suas mangas. Para os carroceiros não passava de pretexto e perseguição. Os animais começaram mesmo a ser recolhidos. À noite, o carroceiro amarrava seu burro em uma corda, próximo a uma moita de capim, para que se pudesse se alimentar, adquirindo resistência para o batente do dia seguinte. De manhã, quando o trabalhador voltava para recolhê-lo, o animal não se encontrava mais naquele local. Havia desaparecido. À beira do desespero, o carroceiro saía à sua procura e só ia encontrá-lo algum tempo depois, preso no curral de conselho. Para retirá-lo de lá, tinha de pagar uma taxa, que na ocasião se tornava significante. Assim, ia acontecendo com todos os carroceiros e proprietários de animais do distrito.
Quase todo o transporte da região era feito, na época, em lombo de animais a não ser o trem (Maria Fumaça) da Vitória-Minas que passava pelo povoado, uma “jardineira”, que cruzava a região uma vez por semana, e alguns veículos.
Agora, a vida ficava cada vez mais difícil. Além de ganhar pouco, os carroceiros ainda tinhas que dividir suas migalhas com os policiais, para soltar seus animais, que eram suas “forças” de trabalho. Com isso, a comunidade toda sofria as consequências. Os comerciantes já não vendiam como antes. Os trabalhadores com carroças já não podiam saldar em dia seus compromissos com o comércio local. O lugarejo começa a entrar em crise e uma grande revolta toma conta dos moradores. Nos botequins de cachaça, noutros estabelecimentos comerciais e nas residências, discutia-se a questão. O que fazer?
Um dia o povoado “amanheceu em efervescência” e o povo se organizou. Todos se uniram para fazer justiça. À note, um grupo de pessoas avisou ao destacamento policial que uma família de camponeses havia capturado em sua propriedade um perigoso ladrão de cavalos e estava à espera da polícia para recolhê-lo à prisão. Barreto não hesitou, caiu no conto, e juntamente com os dois soldados, saiu para o local indicado (imaginando), que ficaria no lado leste do município.
Quando os policiais se retiraram do povoado, a população toda, homens, mulheres e crianças, armados de machados, foices, facões e outras armas e ferramentas, se dirigiu para o curral de conselho, que ficava próximo à cadeia, e o fez em pedaços. A cerca de madeira foi toda quebrada, as criações soltas. Os fios de arame farpado que circundavam o curral foram picados em centímetros. Daí para cá não se tem mais notícias de curral de conselho em Ipatinga.
De acordo com as narrativas dos pioneiros da cidade, José de Assis Vasconcelos, vindo de Alfié, pela serra do Alegre, atravessando o Rio Piracicaba, deu início à abertura de um sítio no local, conhecido por Sítio Velho, hoje área da Usina Intendente Câmara, não tendo ido avante porque fora assassinado por um escravo que alegara de dona Ana Matos1.
- Damião, Everaldo – Terra & Gente de Ipatinga