O “Massacre de Ipatinga” pode ser considerado sem exagero o episódio mais sangrento da história do movimento operário brasileiro. Uma greve pacífica dos metalúrgicos da USIMINAS, reprimida pela Polícia Militar em 7 de outubro de 1963 com brutalidade estarrecedora, redundou em dezenas de vitimas fatais (o número exato de mortos nunca pode ser precisado). A apuração das responsabilidades por esse crimo foi interrompida pelo Golpe de 64, e o episodio deliberadamente sepultado na vala comum que as elites doinantes sempre reservaram para a memória da luta dos obrimidos.
Mas o ressurgimento da organização popular no Vale do Aço, com o resto em todo o país, recolocou na orde do dia a elucidação e o resgate desse capítulo recente mas tão ocultado. A história nos mostra que os trabalhadores, cedo ou tarde, cobram seus mortos. De início surgiram alguns artigos na imprensa de resistência; em seguida, referências em teses e ensaios de pesquisadores vinculados às classes trabalhadoras. No 7 de outubro de 1983, vinte anos depois do “Massacre”, uma comovente concentração reuniu em Ipatinga sindicatos, militantes pastorais, associações comunitárias e – com a presença de Lula – pela primeira vez, os companheiros assassinados foram publicamente homenageados.
Doravante, todos os anos esse dia será lembrado. Nasceu, em Ipatinga, a Socieade Cultural 7 de Outubro. para homenagear a memória dos mortos no melhor estilo operário: conscientizando, ensinando, incentivando a organizações dos tabalhadores.
Finalmente, com este livro de Carlindo Marques, jovem jornalista engajado nas lutas populares do Vale do Aço, fica definitivamente gravada esta página de horror e opróbio para os responsáveis pela matança de operários desarmados.
Fui testemunha das dificuldades de Carlindo Marques para trazer à luz este livro. Desempregado, sem recursos e com pouca experiência de pesquisa, ele enfrentou e superou, com muito denôdo e perseverança, toso os obstáculos. Eis aqui o seu livro.
A Sociedade Editora e Gráfica de Ação Comunitária – SEGRAC – orgulha-se de ter colaborado, ainda que modestamente, para tornar possível a edição dessa obra, que contribui com valioso documento para o debate e a história política da classe trabalhadora.
Nilmário de Miranda